domingo, maio 13, 2007

Tinha uma marca na cara...






Tinha uma marca na cara
e por ela o conheci
porque era uma marca igual 
a outra, que outrora eu vi.
Uma marca singular 
como ela não há igual
para quem a saiba ver
por inteiro,
ao natural.
Estava cravada na cara 
que eu via no espelho.
Não era uma marca bela
pelo contrário é que era.
Por isso arrancá-la eu queria
mas não podia.
Não queria vê-la 
não queria,
mas não podia não vê-la.
Era uma marca sombria
que toda a cara cobria
de tal modo
que a cara já não se via,
só a marca
que eu conhecia.
E nem sabia 
se a cara ainda existia.
De maneira
que o melhor era amá-la,
àquela marca
que antes me aborrecia.
Dei-me a amá-la por isso
e hoje não sei se viveria
sem ela.
Ela
esta bela marca 
que eu vejo
no meu espelho.


Geraldes de Carvalho

De "20 poemas de muito amor e quase nenhuma circunstância"

Sem comentários: