Tinha uma marca na cara
e por ela o conheci
porque era uma marca igual
a outra, que outrora eu vi.
Uma marca singular
como ela não há igual
para quem a saiba ver
por inteiro,
ao natural.
Estava cravada na cara
que eu via no espelho.
Não era uma marca bela
pelo contrário é que era.
Por isso arrancá-la eu queria
mas não podia.
Não queria vê-la
não queria,
mas não podia não vê-la.
Era uma marca sombria
que toda a cara cobria
de tal modo
que a cara já não se via,
só a marca
que eu conhecia.
E nem sabia
se a cara ainda existia.
De maneira
que o melhor era amá-la,
àquela marca
que antes me aborrecia.
Dei-me a amá-la por isso
e hoje não sei se viveria
sem ela.
Ela
esta bela marca
que eu vejo
no meu espelho.
Geraldes de Carvalho
De "20 poemas de muito amor e quase nenhuma circunstância"
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