domingo, junho 17, 2007

Vaidades. Assim, assim...(6)

Os poetas estão dentro dos poetas
e os poemas estão dentro dos poemas
desde agora
desde sempre.
Eu estou dentro dos poetas do passado 
e do porvir
enovelado e perdido
nas mesmas ideias
esperanças
e temores que hoje tenho
e terrores que hão-de vir.
Por isso nem a Safo 
nem o Píndaro
nem Vergílio de seu nome,
-me lembrei agora-
nem D. Dinis
nem Bernardim Ribeiro
o poeta da Menina e Moça 
-mesmo que, aparentemente 
escrito -o livro- em prosa-.
Nem Gil Vicente
nem Camões
nem Shakespeare
nem Rilke
nem Wordsworth
-quando é que eu hei-de aprender estas palavras
que têm mais letras que não rimam do que ideias,
sem o mínimo desprezo pelas enormes ideias que contêm,
ideias que não cabem dentro delas
nem deles
nem de mim....
Nem o Pessoa
ou o Chinês
que com tanto mistério,
- segredo,
lá do fundo - 
se exprimiu
e a Japoneza que lhe era igual, bem...
ainda que escrevendo simplesmente
nos dois sentidos que a palavra tem.
E o Indiano
o Índio
e o Mongol...
Nem Craveirinha
ou Grabato
e todos os outros, nem...
-sempre os melhores me esquecem
sempre os melhores não sei-
-Mas melhores do que quê?
Mas melhores do que quem?-
Nenhum deles,
meus irmãos,
era melhor do que eu sou
nem será melhor
do que eu 
hei-de ser,
porque, enfim...
eram eu
e eu sou eles
e serei
assim...assim
assim assim.


Geraldes de Carvalho

De 21 poemas de muito amor e quase nenhuma circunstância, meu amigo Grabato !

2 comentários:

Van disse...

G.
Lindo, pra variar!
Saudações daqui do meu lugar!
Com trilha sonora, claro!
Beijuca

Ana M disse...

"os poetas estão dentro dos poetas, os poemas estão dentro dos poemas". lindo.

Parabéns pela noite de domingo!
bisou,

Ana