canção de um rapaz na montanha
Eu vivo na serra
pertinho do céu
cantando; e o meu canto
é uma oração!
Sou o rei dos bosques
rei dos animais.
O manto real
deu-mo um carneiro
numa noite fria!
Em troca o fiz conde
do cume da Serra!
A casa em que vivo
deu-ma de presente
um lobo mansinho,
neto desse lobo
que o santo de Assis
ameigou um dia...
Os frutos que como
são propriedade
de uma árvore amiga
e sua família...
A água que bebo
é de um bom regato
que nasceu há tempos
entre dois rochedos
que eu já conhecia,
que às vezes, eu ia
para lá à noitinha
falar sobre aquilo
que se deu com os filhos
do pinheiro velho...
O meu grande amigo
é uma avezinha,
poeta, coitada!...
Dizem que ela é louca,
será, que à noitinha
é que ela verseja
poisada nas silvas,
e canta, e o seu canto
é de enlouquecer deveras...
Chorai vales,montes
regatos chorai
chorai,chorai fontes
chorai que a alegria
com este canto louco,
a pouco e pouco
morrendo,se esvai!
Chorai que este dia
o dia que vem,
não virá jamais!
Será sempre noite
uma noite escura
tendo por vigia
a lua de neve,
de palidez crua
tão leve...tão leve
e assustada, nua
como amante incauta
que por má ventura
foi surpreendida
noite alta...
Chorai minha vida
perdida, perdida
sem sol, sem amor
só lágrimas, dor
desgraça
loucura!...
E a pobre avezinha
cantando,gemendo
desfalece, cai
e eu vou ampará-la
aqueço-a ao peito
e depois de beijá-la
com geito, com geito
deixo-a voar
- é já madrugada -
e ela vai dormir
para à noite voltar
e carpir,desfalecer...
Um dia há-de morrer cantando
tal como o rouxinol de Bernardim.
E eu chorando:
É sina! é sina o rouxinol morrer assim!
Recordando os meus dezassete anos,altura em que o escrevi.
Publicado no meu livro "Sombras de alma"
terça-feira, fevereiro 13, 2007
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
Veloz, não? Essa sonoridade, não sei se interessa saber, mas muito me apetece. Rápida, alada, armada!
Seu comentário veio em tempo record, embora uns dez chineses (?) tenham lido primeiro.
Até mais ver,
Enviar um comentário