segunda-feira, abril 30, 2007

O meu amor agora é como um rio





O meu amor agora é como um rio
que nasce breve e fundo nas montanhas
saltita enquanto engrossa,
desnivela.
Nada vê
só a ideia de um cheiro a sal
o orienta,
caindo lá do alto
em torrentes tumultuosas
até aos rápidos e às cataratas.
Corre e discorre sem nexo sobre os vales
como se se esquecesse de ser rio
mas volta sempre e sempre ao mesmo lago,
lago que são mil lagos na verdade,
como se se esquecesse de ser rio,
ainda que já sonhando com o mar.
Depois volta a espraiar-se noutros vales
correndo ora uniforme como um rio
ora como uma onda ou uma ideia
que de ser rio
se esquecesse
ou não quisesse ser.
Até que confluindo para o mar
se encontra enfim
e se desfaz
em ti
em ti
em mim.


Geraldes de Carvalho


de "18 poemas de muito amor e quase nenhuma circunstância"

2 comentários:

Iara Maria Carvalho disse...

Um poema correndo como rio dentro de palavras,d entro de mundos que cantam dentro de ti.
O mundo canta dentro de nós.

Obrigada por sua gentil visita na minha Janela!
voltarei mais vezes aqui!

Abraço.

Moacy Cirne disse...

Meu caro: grato pela visita ao Balaio. Sobre o seu poema por último postado no seu blogue, Iara Maria expressou-se muito bem. Ah, sim: também sou admirador do cinema de Bergman e Kurosawa. Um grande abraço. Voltarei, certamente.