quarta-feira, outubro 31, 2007

Eu sou ai eu sou -VI-

Eu sou ai eu sou
um grito
perdido
na noite passada
na noite fechada

Ressoo e ecoo
Redobro o torpor
Desta noite antiga
em que eu não sou nada
Apenas um grito
na noite perdido
na noite perdida

Abro a boca
os olhos;
vou
por aqui - por onde? -
aclarando a voz
A noite está louca
pois só me responde 
um silêncio atroz


Não me reconheces?
Estou tão mudado?
Como é isso assim
se apenas sou nado?

Queres que me cale?
Mas como poder?
Estou vivo, não ves?.

O que eu digo é nada?
Bem sei, bem no sei
mas faz-te pequena
e assim me ouvirás.

Minha noite amiga
noite em que eu nasci
olha para mim.
Por que eu não sou eu
sou montes, montanhas
alcateias, bandos,
e bandos e bandos
que gritam assim...

Se eu fosse
se eu fosse
se ser eu pudesse
se ser eu quisesse
uma voz mansinha
que dissesse
à noite
à noite pequena
à noite, à noitinha
o que ela adivinha.
E se ela me ouvisse
e me acalentasse
como eu desejasse...

Se ser eu pudesse
se ser eu quisesse...

Geraldes de Carvalho

de NOVOS E VELHOS CANTOS Évora 2005

2 comentários:

Anónimo disse...

Primavera disse:
o poema levanta uma ponta do véu sobre o poeta "se eu fosse" pretendendo talvez responder à pergunta que fazemos: quem será? Pela sua poesia tínhamos já sentido como ele é "um grito pedido" que ressoa e ecoa, aclarando a voz. Como é uma voz poética- e que bela voz- só ganhamos em que contine a indagar-se : quem sou? sou...
Primavera

Alê Quites disse...

Querido,
sua escrita sempre pedi olhos d'alma.
Beijos*