Eu sou ai eu sou
um grito
perdido
na noite passada
na noite fechada
Ressoo e ecoo
Redobro o torpor
Desta noite antiga
em que eu não sou nada
Apenas um grito
na noite perdido
na noite perdida
Abro a boca
os olhos;
vou
por aqui - por onde? -
aclarando a voz
A noite está louca
pois só me responde
um silêncio atroz
Não me reconheces?
Estou tão mudado?
Como é isso assim
se apenas sou nado?
Queres que me cale?
Mas como poder?
Estou vivo, não ves?.
O que eu digo é nada?
Bem sei, bem no sei
mas faz-te pequena
e assim me ouvirás.
Minha noite amiga
noite em que eu nasci
olha para mim.
Por que eu não sou eu
sou montes, montanhas
alcateias, bandos,
e bandos e bandos
que gritam assim...
Se eu fosse
se eu fosse
se ser eu pudesse
se ser eu quisesse
uma voz mansinha
que dissesse
à noite
à noite pequena
à noite, à noitinha
o que ela adivinha.
E se ela me ouvisse
e me acalentasse
como eu desejasse...
Se ser eu pudesse
se ser eu quisesse...
Geraldes de Carvalho
de NOVOS E VELHOS CANTOS Évora 2005
2 comentários:
Primavera disse:
o poema levanta uma ponta do véu sobre o poeta "se eu fosse" pretendendo talvez responder à pergunta que fazemos: quem será? Pela sua poesia tínhamos já sentido como ele é "um grito pedido" que ressoa e ecoa, aclarando a voz. Como é uma voz poética- e que bela voz- só ganhamos em que contine a indagar-se : quem sou? sou...
Primavera
Querido,
sua escrita sempre pedi olhos d'alma.
Beijos*
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