domingo, outubro 14, 2007

Olhos de mar alto

A minha ciência ou filosofia, ou o que raio seja, deve ter-vos enfastiado. A mim também.
Para V. compensar vai aí um poema dos meus tempos de quase criança.
Espero que com ele se sintam crianças como eu e todos iremos para o céu..
Vai tal como o escrevi . Apenas lhe retirei quase toda a pontuação porque eu abusava muito dela, naquela altura.

Olhos de mar alto


Trazes nos olhos o chorar dos mundos
dois mares ansiosos de ser céu. 
Meus olhos são mil mundos de tormentos
e o teu olhar, já não cabe no meu. 
Eu já não sou aquele cujos ventos 
faziam tempestades nos teus olhos; 
estou reduzido à condição de escolhos
batidos pelas ondas ansiosas 
de vogar pelos céus 
abraçar novamente as nebulosas 
e conversar um pouco sobre deus. 
Quem me dera ser gota dessa onda,
aprender com teus olhos a voar 
e a perguntar belezas que ninguém responda.

***

Teus olhos são dois braços de uma cruz
e nesse gesto largo que fizeste 
para abarcar o mundo, 
o mundo contiveste .

Geraldes de Carvalho 

do meu livro "sombras de alma" Coimbra 1955

5 comentários:

Unknown disse...

Caro Geraldes,

Se a Poesia fosse vinho, dir-te-ia o seguinte: bela colheita, esta de 1955.
Um abraço

Xavier Zarco

Van disse...

Um dia, G.....
Um dia ainda escreverei com pelo menos um terço da sua genialidade. Um dia..........
Poema deslumbrante, querido!
Talento é talento! E o seu é impressionante!

Maravilhoso!

Beijucas

amantedasleituras disse...

a poesia não é vinho mas bebe-se como eu bebi esta.

jinhos

Okawa Ryuko disse...

Tinha vinte e tal anos, mas o seu estilo estava lá.

Anónimo disse...

« Olhos de mar alto », num céu poético. Genial.
Aquele abraço amigo.
Quatro folhas