A minha ciência ou filosofia, ou o que raio seja, deve ter-vos enfastiado. A mim também.
Para V. compensar vai aí um poema dos meus tempos de quase criança.
Espero que com ele se sintam crianças como eu e todos iremos para o céu..
Vai tal como o escrevi . Apenas lhe retirei quase toda a pontuação porque eu abusava muito dela, naquela altura.
Olhos de mar alto
Trazes nos olhos o chorar dos mundos
dois mares ansiosos de ser céu.
Meus olhos são mil mundos de tormentos
e o teu olhar, já não cabe no meu.
Eu já não sou aquele cujos ventos
faziam tempestades nos teus olhos;
estou reduzido à condição de escolhos
batidos pelas ondas ansiosas
de vogar pelos céus
abraçar novamente as nebulosas
e conversar um pouco sobre deus.
Quem me dera ser gota dessa onda,
aprender com teus olhos a voar
e a perguntar belezas que ninguém responda.
***
Teus olhos são dois braços de uma cruz
e nesse gesto largo que fizeste
para abarcar o mundo,
o mundo contiveste .
Geraldes de Carvalho
do meu livro "sombras de alma" Coimbra 1955
5 comentários:
Caro Geraldes,
Se a Poesia fosse vinho, dir-te-ia o seguinte: bela colheita, esta de 1955.
Um abraço
Xavier Zarco
Um dia, G.....
Um dia ainda escreverei com pelo menos um terço da sua genialidade. Um dia..........
Poema deslumbrante, querido!
Talento é talento! E o seu é impressionante!
Maravilhoso!
Beijucas
a poesia não é vinho mas bebe-se como eu bebi esta.
jinhos
Tinha vinte e tal anos, mas o seu estilo estava lá.
« Olhos de mar alto », num céu poético. Genial.
Aquele abraço amigo.
Quatro folhas
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